Noites Paraenses: a quarta individual.

Noites Paraenses : uma homenagem ao Pará e suas noites quentes e perfumadas na quarta individual.

“Noites Paraenses”
Opus1 -n1
Pastel s/papel
50x50cm
1987
“Grande Nu Paraense Noturno”
Pastel s/ tela montada
100×10 cm
1884

 

“Noites Paraenses – Opus 1, nº3”
Pastel s/ papel
50x50cm
1985

 

“Noites Paraenses – Opus II No 3 “
Pastel s/ papel
50x50cm
1985
“Noites Paraenses – Opus 1, nº2”
Pastel s/ papel
50x50cm
1984
“Certas harmonias de cores causam sensações que até mesmo a música não pode atingir. ”                Delacroix

 

Se, por uma lado, a cor já foi codificada (Goethe, por exemplo), definí-la ainda continua sendo quase impossível. Mas como o seu efeito depende mais da sensibilidade que do conhecimento codificado, o artista é o ser apto para descobrir o que fazer com ela e chegar mesmo à cor inexistente.

Partindo da premissa que a cor e a forma são a base do vocabulário do pintor, pode-se afirmar que uma pintura triunfa ou fracassa na medida em que as mesmas se interrelacionam.
Portanto, se a cor atinge a visão, a percepção e a emoção daqueles que vêem, o preto, tido como ausência de cor, para o artista, ao contrário, é a presença absoluta da cor e da luz.
Porque, em arte, tudo se projeta numa zona onde não há valores fixos ou pré fixados e o artista, o crítico e o apreciador conseguem apenas aquilo que se esforçam por obter o impossível.
A esse esforço pode-se dar os nomes de iniciação, labor, experiência crítica, que constituem o fundamental para o exercício artístico.
Somado à ansiedade referida por ao analisar Picasso, isso transforma o artista em permanente perquiridor da nunca conseguida beleza ideal que, pela vibração e busca incessante do artista consegue, a despeito de tudo, interpretar e transmitir as angústias e as alegrias de seu tempo e espaço.

Acredito que o pintor Odilon é um exemplo de artista consciente desse entendimento de pureza que legitima a expressão artística.
Utilizando com competência a extrema fragilidade e delicadeza das terras pulverizadas do material que escolheu para trabalhar, ele sabe extrair, com extraordinária riqueza, efeitos que só o conhecimento aprimorado permite a esse tipo de recurso técnico da pintura.
Por isso vale destacar a qualidade de uso pessoal que faz desse material, valorizado por vários pintores famosos do impressionismo, no fim do século passado, como Degas, Toulouse-Lautrec, Renoir, Monet.O pastel, entretanto, tem história um pouco mais recuada no tempo. Atualmente, contudo, a corrida tecnológica a tem colocado em segundo plano, tornando cada vez mais raro a contra posição à crescente utilização das tintas acrílicas.
O uso desse material como recurso decorativo em publicidade e a sua característica delicadeza de manuseio certamente também tem contribuído para um certo desdém por parte dos pintores e consumidores, envolvidos pela descontinuidade de nosso tempo.
Como ensinam os mestres, na realidade, os cuidados atribuídos para qualquer desenho ou pintura a lápis , aquarela ou óleo.
Toda obra de arte deve ser cuidada, conservada e, somente assim, foi possível manter até hoje o frescor das célebres bailarinas de Dègas e as famosas cenas do Moulin Rouge de Toulouse Lautrec.
Todavia, por serem pouco cultivadas e de difíceis peculiaridades técnicas, como dissemos, cada vez mais raros.Essa pouca difusão de uso talvez impeça que o pastel estimule nos artistas a curiosidade de conhecimento pleno de seus atributos de infinita potencialidade técnica.

Quando um pintor dedica-se com afinco a um determinado material, pode extrair dele surpreendentes resultados.
É o caso do pintor Odilon Cavalcanti.
Seus 16 trabalhos exibidos nessa mostra no Mubel são o produto mais recente da produção do pintor, que sabe substituir os obstáculos materiais da técnica pela substância telúrica de suas telas.

Forma e conteúdo se harmonizam em um figurativo de forte tendência abstrata, onde o informal e o geométrico aparecem como um meio apenas, porque fim é o que a percepção dos que têm olhos e enchergam, saberão encontrar em Odilon, artista cheio de promessas e já apto a descobrir, na verdade de seu intenso colorido e de seu adequado conhecimento técnico do material, a cor inexistente , que transforma uma simples prancha colorida em obra de arte.

Benedicto Mello
Belém
1987

 

 

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